Quem é que disse que eu não podia fazer-te uma visita sempre que quisesse?!?! Tchanan!*
Mais uma etapa, mais um desafio.... mais uma presença assídua! Dá-lhe forte grande amigo!*
Eu tenho um herói que já fez anos e que teve um crachá ao peito, presente das suas vacas. Ergueu a taça que lhe demos e chamou-nos parolas por causa da vela estridente. O meu amigo ia partindo o tecto do IPO com as rolhas do champagne porque ele é mesmo assim... um estrondo de pessoa que cativa e encanta. Ele agora está lá naquele quarto porque quase partiu o tecto... mas está também a recuperar para depois me abraçar com a mesma força e dizer que preciso de comer mais. O meu herói adora empaturrar-nos de comida e só não nos acompanha porque lhe dói a garganta. Conduz um camião TIR com todos os soros e antibióticos acorrentados e diz que é melhor eu não lhe comprar um sistema imunitário novo nos chineses porque aquilo não é de fiar. Eu já lhe disse que vou tentar arranjar um no mercado negro. O meu Zé é um herói, um irmão, um amigo, um exemplo... Agora que te tiraram os ovos moles, as uvas, o tang e os chocolates e que tens a mania que és chique e só podes comer certos alimentos, eu vou alimentando-te com as minhas parvoíces diárias e beijinhos grandes de força.
Naquelas poças enormes, formadas pelas águas das chuvas dos últimos dias, vejo o meu reflexo. Estranho a imagem que lá vejo. Descuidada e perdida, existem cicatrizes profundas e frescas. Estou desfigurada. O cheiro e o sabor não são os mesmos, os olhos estão baços e o corpo cansado. A luta foi árdua e tu deixaste as marcas de uma batalha perdida. A mais nova das cicatrizes tem sido a mais difícil de sarar. Sempre que me esforço para fazer um gesto mais brusco ela abre, como que a querer que não esqueça dela nem da sua origem. E eu não me esqueço! Enrolo-me em mil e uma ligaduras e vou tentando tornar branco o preto da fuligem que me caracteriza há já algum tempo. É uma bonita conjugação, pensam os adeptos da arte. Para mim é só mais uma camuflagem... Camuflar o cansaço e o sufoco, camuflar a perdição no meio das histórias sem sentido, camuflar o que resta de mim! Estou branca e preta, ferida e sã, capaz e desterrada. Estou-me a sentir puxada em dois sentidos opostos, puxões que me vão abrindo as feridas e fazendo perder as forças. Quero ir contigo, força nova... Quero simplesmente ir e respirar o teu ar e não este que me rodeia e que é forçado à poluição. Eu desculpo-os porque não sabem o que fazem... Desculpo porque não vêem ou não querem ver o que eu vejo! Tenho que aceitar a condição de me sentir deslocada quando dei o tal passo que muitos ainda nem sequer sabem que existe. É o que faz ser precoce... e exacerbada... e excessivamente lutadora... e eternamente viva! Naquelas poças enormes, formadas pelas águas das chuvas dos últimos dias, vejo o meu reflexo. Afinal és bela nas tuas imperfeições... sábia nos teus erros... dura nas tuas lutas! As feridas vão sarar... têm que sarar... estão quase a sarar!*
Se há coisa que não posso sentir é culpa. Fui tudo o que de melhor podia ter sido... mesmo depois de todas aquelas situações menos próprias! Dei voltas e voltas à cabeça para te tentar compreender, dei-te novas hipóteses vezes suficientes para que percebesses... E tu somente não vias (ou forçaste-te a não ver)! Palavras e mais palavras cuidadas para não ferirem... Necessidade urgente de te proteger do cruel mundo que teimava em te afundar... e quem se afundou, afinal, fui eu! A luta foi árdua e, eu, nada mais podia fazer... mas tu podias ter feito tanto! Preferiste justificar-te com desculpas, a meu ver, infundadas e esfarrapadas. E eu deixei-me vencer pelo cansaço... Já sei que agora os papéis estão invertidos: és mais forte e seguro que eu e consegues voar e alcançar os teus sonhos, com base na crença de liberdade que me caracterizava. Não te invejo. Soubeste jogar e vencer. Podias era ter sido mais atento e fiel às palavras proferidas, às acções realizadas e aos pedidos efectuados! Deixaste um sabor amargo... simplesmente porque foi mais fácil afastares-me!*