Deus enviou-me à terra com uma missão. Só Ele pode deter-me, os homens nunca poderão.
Ousadia, pretensão, mania da superioridade, o que quiserem... Eu chamo de determinação! E não tenciono mudar*
Naquelas poças enormes, formadas pelas águas das chuvas dos últimos dias, vejo o meu reflexo. Estranho a imagem que lá vejo. Descuidada e perdida, existem cicatrizes profundas e frescas. Estou desfigurada. O cheiro e o sabor não são os mesmos, os olhos estão baços e o corpo cansado. A luta foi árdua e tu deixaste as marcas de uma batalha perdida. A mais nova das cicatrizes tem sido a mais difícil de sarar. Sempre que me esforço para fazer um gesto mais brusco ela abre, como que a querer que não esqueça dela nem da sua origem. E eu não me esqueço! Enrolo-me em mil e uma ligaduras e vou tentando tornar branco o preto da fuligem que me caracteriza há já algum tempo. É uma bonita conjugação, pensam os adeptos da arte. Para mim é só mais uma camuflagem... Camuflar o cansaço e o sufoco, camuflar a perdição no meio das histórias sem sentido, camuflar o que resta de mim! Estou branca e preta, ferida e sã, capaz e desterrada. Estou-me a sentir puxada em dois sentidos opostos, puxões que me vão abrindo as feridas e fazendo perder as forças. Quero ir contigo, força nova... Quero simplesmente ir e respirar o teu ar e não este que me rodeia e que é forçado à poluição. Eu desculpo-os porque não sabem o que fazem... Desculpo porque não vêem ou não querem ver o que eu vejo! Tenho que aceitar a condição de me sentir deslocada quando dei o tal passo que muitos ainda nem sequer sabem que existe. É o que faz ser precoce... e exacerbada... e excessivamente lutadora... e eternamente viva! Naquelas poças enormes, formadas pelas águas das chuvas dos últimos dias, vejo o meu reflexo. Afinal és bela nas tuas imperfeições... sábia nos teus erros... dura nas tuas lutas! As feridas vão sarar... têm que sarar... estão quase a sarar!*